A Expansão Cafeeira no Brasil
O
cafeeiro pode demorar até seis anos para germinar. Até frutificar, a planta
depende muito das condições naturais. Foi no Rio de Janeiro, principalmente nas
regiões mais elevadas, que o arbusto encontrou essas características ideais
para o cultivo, como solo e clima. Além disso, também havia recursos monetários
promissores para sua produção nesse local. Embora não estivesse entre os
principais gêneros produzidos na capitania no final do século XVIII e no início
do XIX – quando o açúcar estava em destaque –, o café apareceu na pauta da
exportação em 1793, com 190 arrobas. No início do século XIX, o cultivo foi
expandido para o oeste do Rio de Janeiro, chegando à região do Vale do Paraíba
fluminense e paulista, o “oeste velho” paulista. A vinda da Corte para o Rio de
Janeiro em 1808 foi um marco nesse incremento da expansão cafeeira. Negociantes
de grosso trato, comerciantes-tropeiros e outros grupos sociais, que prestavam
serviços à Coroa, receberam sesmarias na região do Vale. Isso aumentou os dois
fluxos migratórios para a região: um descendo de Minas Gerais, principalmente
da Comarca do Rio das Mortes e do sul de Minas; o outro, subindo a partir do
Rio de Janeiro, passando por Raiz da Serra. Negociantes ligados aos comércios
das tropas, de cabotagem, negreiro, e alguns com negócios da arrematação de
contratos de direitos e tributos régios, como a dízima da alfândega, dízimos e
outros, passaram a produzir café em suas terras, juntamente com a produção de
açúcar e de outros gêneros ligados ao abastecimento. Tendo em abundância os fatores de
produção – terra, mão de obra escrava e capital – e com o crescente mercado
externo consumidor, principalmente os Estados Unidos, a produção na região do
Vale do Paraíba cresceu. A ponto de o café se tornar o terceiro produto da
pauta das exportações brasileiras na década de 1820, com 19,2%, só perdendo
para o açúcar, com 27,8%, e para o algodão, com 21%. Mesmo com a turbulência
política do Primeiro Reinado (1822-1831) e das Regências (1831-1840), o café
passou a ser o principal produto de exportação a partir de 1830. Na segunda
metade do século XIX, correspondeu a mais de 60% das exportações. O surgimento
da grande fazenda em meados do século XIX – com suas casas grandes e suntuosas,
longas extensões de terra e centenas de trabalhadores escravos – significou o
auge do poder dos cafeicultores. Mas, no aspecto econômico, representou o
endividamento cada vez maior do cafeicultor frente ao comissário local ou
comissário na cidade portuária, um intermediário, em geral um comerciante, que
adiantava ao fazendeiro recursos em dinheiro ou em mercadorias, como escravos,
por exemplo, em troca da safra futura, e deste em relação ao ensacador e ao
exportador de café, também localizados na cidade portuária. Por outro lado, a
produção cafeeira tinha também uma cadeia de crédito: o cafeicultor podia pagar
sua dívida passada, evitar a penhora de seus bens ou postergar o pagamento pelo
peso político, ou seja, tendo algum cargo político ou sendo de uma família
importante, evitava perder sua terra. Mesmo com o aparecimento dos bancos e das
casas bancárias – cuja diferença principal estava na forma de organização da
sociedade: os bancos organizados sob a forma de S/As; as casas bancárias, como
sociedades comerciais – principalmente após 1850, não houve mudanças
significativas no financiamento do café, porque muitos comissários eram
acionistas dessas instituições. A expansão da cafeicultura do Vale do Paraíba
fluminense e paulista incrementou a atividade comercial exportadora e
importadora da cidade do Rio de Janeiro. A criação do Código Comercial – uma
legislação mercantil brasileira que substituiu as Ordenações Filipinas, que
datam de 1595 –, o fim do tráfico negreiro e a Lei de Terras, em 1850,
possibilitaram uma intensa atividade mercantil na cidade. O capital comercial,
que antes era direcionado para o comércio de escravos, passou a ser aplicado em
bancos, casas bancárias e sociedades comerciais de diversos fins. A Bolsa de
Valores do Rio de Janeiro, criada em 1848, tinha a finalidade de negociar os
títulos do governo e incomodava intelectuais conservadores da boa sociedade. A expansão cafeeira no Vale do
Paraíba, com o uso extensivo do solo e do contingente de mão de obra escrava,
chegou ao auge nas décadas de 1850 a 1870. Impulsionada pela crescente demanda
externa de café do período, a exportação do produto passou de 51,7% para 56,8%.
Isso significou um aumento, em libras, de 55,4 milhões para 116,6 milhões,
repercutindo principalmente nos custos da mão de obra. O preço do escravo
adulto, que em meados da década de 1850, na cidade do Rio de Janeiro, girava em
torno de 500 mil-réis (500$000), na década seguinte chegou a mais de um conto
de réis (1:000$000), um aumento de 100%.Nas décadas de 1870 e 1880, o esgotamento
do solo e o envelhecimento da mão de obra escrava tornaram visível o declínio
da produção cafeeira do Vale do Paraíba. Um sinal dessa situação foi a
depreciação das fazendas, como bem destacou o historiador norte-americano
Stanley Stein ao analisar a região de Vassouras (RJ). Como exemplo, Stein citou
a Fazenda Guaribu, pertencente ao cafeicultor Claudio Gomes Ribeiro de Avelar,
o primeiro e único barão de Guaribu. Em 1863, o total dos haveres da fazenda
era de mais de 635 contos de réis, sendo que os escravos correspondiam a 69,5%;
o cafezal, a 11%; as terras, a 6,5%; e benfeitorias e outros, a 13%. Em 1880, o
total de haveres dessa fazenda diminuiu para 442 contos, uma queda de 31%. Em
1887, a fazenda valia 112 contos, uma queda de 84% em relação a 1863. O
declínio do café do Vale do Paraíba fluminense e paulista, marcado pela frase
“O Brasil é o café e o café é o negro” – dita pelo senador Silveira Martins em
1888, em discurso contra a Abolição –, simbolizou o esgotamento do Império
escravista brasileiro. Outras regiões produtoras cresceram em importância,
destacando-se o “oeste novo” paulista e a Zona da Mata mineira. Essa nova produção de café, também
baseada no uso extensivo da terra e da mão de obra escrava até a assinatura da
Lei Áurea, possibilitou o aumento da participação do café nas exportações
brasileiras nas décadas de 1880 e 1890. Nessa região, a partir da Abolição,
passou-se a utilizar com mais intensidade a força de trabalho do imigrante,
muito mais barata que a do escravo, sob a forma de trabalhador livre, conhecida
como colonato. Nessas décadas, o café aumentou sua participação nas exportações
brasileiras para 62,2% e 64,6%. Mesmo
com a crescente participação da borracha, que ultrapassou o açúcar na década de
1890, tornando-se o segundo produto de exportação, o café continuou a ser o
símbolo da opulência e da riqueza política e econômica. Não era mais o café do
Vale, e sim do oeste novo paulista e do sudeste mineiro. Não era mais a
Monarquia, e sim a Primeira República.
No dia 18 de julho de 1975, uma forte geada dizimou todas as plantações de café do Paraná, o que provocou o êxodo de cerca de 2,6 milhões de pessoas.
No dia 18 de julho de 1975, uma forte geada dizimou todas as plantações de café do Paraná, o que provocou o êxodo de cerca de 2,6 milhões de pessoas.
Após a terrível geada negra, a cultura cafeeira do Estado do Paraná foi destruída. |
As estatísticas dão
uma dimensão grandiosa dos eventos daquele dia. Na safra de 1975, cuja colheita já havia sido encerrada antes
da geada, o Paraná havia colhido 10,2 milhões de sacas de café, 48% da produção
brasileira. Era o maior centro mundial nessa cultura e tinha uma produtividade
superior à média nacional. No ano seguinte, a produção foi de 3,8 mil sacas.
Nenhum grão de café chegou a ser exportado e a participação paranaense na
produção brasileira caiu para 0,1%. Nos dias seguintes já começava a
consolidar-se uma idéia de que o estrago seria duradouro. Ogovernador Jayme Canet Júnior anunciava que o
orçamento do Estado seria reduzido em 20% no ano seguinte.
O prognóstico dos especialistas era de que o prejuízo chegaria a Cr$ 600 milhões (o equivalente, pela cotação da época, a US$ 75 milhões), apenas nas lavouras de café. Outras culturas, como o trigo, também sofreram perdas importantes, de mais de 50%. Mas era o café que sustentava a economia do Paraná naquela época – uma situação que mudaria logo em seguida, já que os cafeicultores nunca mais se recuperariam desse impacto.
O prognóstico dos especialistas era de que o prejuízo chegaria a Cr$ 600 milhões (o equivalente, pela cotação da época, a US$ 75 milhões), apenas nas lavouras de café. Outras culturas, como o trigo, também sofreram perdas importantes, de mais de 50%. Mas era o café que sustentava a economia do Paraná naquela época – uma situação que mudaria logo em seguida, já que os cafeicultores nunca mais se recuperariam desse impacto.
Em uma geração muita
coisa pode mudar. Mas parece certo que a geada negra de 1975 foi um daqueles
raros momentos em que um único fato é capaz de precipitar mudanças históricas.
“É bem difícil imaginar como seria o Paraná hoje se a geada não tivesse ocorrido”,
diz o agrônomo Judas Tadeu Grassi Mendes, que à época trabalhava na Secretaria
de Agricultura do Estado e hoje é pró-reitor acadêmico do Centro Universitário
FAE, em Curitiba. “O mais provável é que tudo o que aconteceu de 1975 para cá –
a perda de importância da agricultura cafeeira, a supremacia da soja, o
fortalecimento das cooperativas, a migração, a industrialização – tivesse lugar
do mesmo jeito, mas não à mesma velocidade”, opina. Movida pelo vento frio da
História, no entanto, a vida dos paranaenses nunca mais foi à mesma.
A geada negra de 1975, que mudou a história paranaense ao aniquilar a principal cultura agrícola existente no Estado, tornou a vida difícil para muita gente. Ao mesmo tempo, outros fatores surgiram para dar um empurrão extra. No oeste do Estado, a construção da usina de Itaipu obrigou pelo menos 8 mil agricultores a deixarem suas propriedades, gerando uma demanda por terra que não tinha como ser suprida na região. Ao mesmo tempo, culturas tradicionais no Estado, como o trigo e o algodão, sofriam com o clima e com a conjuntura econômica. Em escala menor, uma geada ocorrida em 1983 repetiu para os produtores de trigo o estrago que os cafeicultores haviam sentido oito anos antes.
A geada negra de 1975, que mudou a história paranaense ao aniquilar a principal cultura agrícola existente no Estado, tornou a vida difícil para muita gente. Ao mesmo tempo, outros fatores surgiram para dar um empurrão extra. No oeste do Estado, a construção da usina de Itaipu obrigou pelo menos 8 mil agricultores a deixarem suas propriedades, gerando uma demanda por terra que não tinha como ser suprida na região. Ao mesmo tempo, culturas tradicionais no Estado, como o trigo e o algodão, sofriam com o clima e com a conjuntura econômica. Em escala menor, uma geada ocorrida em 1983 repetiu para os produtores de trigo o estrago que os cafeicultores haviam sentido oito anos antes.
Integrantes do GRUPO: Ana
Clara N°: 1;Daniela n°:3;Geisa n°:8;JENIFER N°:12;TATIANE N°:25.